AMARGOSA
A cidade de Amargosa, faz parte de uma região denominada como Matas do Ribeirão, era de domínio dos índios Karirís-Sapuyá de língua Karamuru e Sapuyá. Vindos do litoral, de onde teriam sido expulsos por Tupis.
Apesar do aldeamento ser em Pedra Branca aos pés da Serra da Jibóia (atualmente distrito de Santa Terezinha) eram para as matas de Amargosa que se refugiavam, a partir do século XIX com o estreitamento da relação com os colonos e fazendeiros. Assim, a região foi palco de lutas armadas entre indígenas e colonos.
Um protagonismo histórico na luta indigena local, é o João Francisco Felix, nascido no aldeamento de Pedra Branca, e segundo as fontes, foi morar nas matas do Ribeirão, mais especificamente no local denominado Baitinga. A partir de então, acrescentou Baitinga ao seu nome, sendo muitas vezes mencionado nas fontes como João Baitinga. Teve um papel importante na defesa da terra indigena. É símbolo de resistência na luta contra os colonos.
Os kiriris-sapuyás tiveram significativas participações nas disputas políticas como a Independência da Bahia. Com a intensificação da repressão, foram sendo desarticulados e massacrados, parte assassinada e outra deslocada para a região sul da Bahia. Apesar de ser pouco estudado, a presença indigena e suas disputas na região, é uma das mais documentadas da Bahia. Ainda encontramos a marca da ancestralidade indigena na memória coletiva. Na linguagem, com nomenclaturas de origem Tupi como Timbó, Tauá e Itachama. Também em rastros históricos que os mesmos deixaram, como os utensílios (tambor, cachimbo, prato…) encontrados no Tauá e nos desenhos rupestres nas grutas do Morro da Loja e Morro do Jatobá.
A resolução provincial nº 1.726 de 21 de abril de 1877 criou a Vila de Nossa Senhora do Bom Conselho de Amargosa, desmembrando-a de Tapera (atual Santa Terezinha). Amargosa foi elevada de Vila a condição de cidade pelo ato de criação datado de 19 de junho de 1891.
A emancipação política da cidade destaca-se como símbolo de progresso e nascimento de um novo potencial político-econômico no interior da Bahia. Título que chega com os trilhos do Ramal da Estrada de Ferro de Nazareth, consolidando a cidade nas relações comerciais do Recôncavo Baiano. A principal produção da época era o café, sendo quase a totalidade do que era exportado por Nazaré oriundo de Amargosa.
O momento era de transformação na relação de trabalho no Brasil após a abolição do trabalho escravo. Mesmo libertos, buscavam formas de sobreviver, no interior baiano, se direcionava às zonas rurais para trabalho nas fazendas.
Segundo o primeiro Censo do Brasil de 1872, a população da Vila de Nossa Senhora do Bom Conselho de Amargosa, era 80% formada por negros. Em sua maioria concentrados nas extensões rurais em comunidades formadas a partir das relações de solidariedade coletiva, laços familiares e trabalho.
Assim, na então cidade de Amargosa, a mão de obra negra, muitas vezes ainda em regime de trabalho escravo, foi o motor da produção cafeeira. Sendo em nesse momento, a maior parte da área pertencente à extensão do município, ocupada por lavouras de café. Um exemplo é a Fazenda Floresta Negra, que pertenceu a Pedro Calmon Freire Bittencourt, na qual, tinha um Complexo Agroindustrial de beneficiamento de Café e o mesmo também era dono do maior armazém da cidade, que comercializava diretamente com Paris. Além do café, o fumo teve participação significativa na economia, sendo o segundo produto mais exportado, em 1897 foi inaugurada uma grande fabrica de charutos dentro da cidade.
Moinho movido a tração humana - Fazenda Floresta Negra
Nesse momento de advento econômico, a cidade passa a receber um fluxo migracional cada vez maior de pessoas vindas da Europa interessadas em se inserir nesse próspero comércio. Elas constituíam dois ramos das elites amargosenses: uma proprietária de terra e outra comercial. Em suma, eram detentores das casas comerciais e fazendas, formavam a elite política local e traziam consigo o ideal de progresso.
A igreja católica teve um importante papel na formação da cidade. Em 1840 foi doado 150 braços de terra para o patrimônio de Nossa Senhora do Bom Conselho, onde hoje é localizado o cristo redentor no centro da cidade, para ser construída a primeira capela local, denominada Capelinha. Em 1942, foi inaugurada a Diocese de Amargosa, construída na praça principal da cidade, intitulada Jardim Lourival Monte, símbolo da modernização da cidade, seguindo os modelos europeus, construída para concentrar os três poderes ao seu redor, a igreja, a câmara e a prefeitura. A influência católica rege a construção sócio-cultural local, com seu calendário de festejos, influência política e na construção dos valores sociais.
Embora os valores presentes no imaginário local fossem respaldados pelo projeto da Igreja Católica, isso não permite afirmar que suas concepções eram aceitas por todos. Muitos são os relatos históricos da represália religiosa que recaia por cima de quem não seguia as ordens católicas. A legislação era um dos instrumentos usados para retificar a fé católica e seus costumes em detrimento de outros.
No século XX a cidade de Amargosa viveu seus anos de apogeu e também de declínio. A primeira metade do século foi marcado por avanços na construção de um modelo de cidade moderna.
Sendo um dos principais centros comerciais da Bahia, recebeu o título de Cidade Jardim pela beleza que esbanjava em suas praças. A arquitetura também se destacava, no centro da cidade se ergue belíssimos exemplares de uma arquitetura onde a presença de ornamentos caracterizados por elementos decorativos, como estuques em temáticas florais, volutas e outros símbolos, ganham importância nas fachadas, demonstrando status social e as relações de poder.
Em contrapartida, esse processo de higienização se restringe ao centro da cidade onde comporta a elite local. A população marginalizada, composta por negros e mestiços, ficavam restritos a periferias, bairros mais afastados e com muito descaso do poder publico. Como a Rua de Palha, a qual traz no nome a história de resistência negra que se deslocava das zonas rurais para os centros urbanos, foi um bairro construído com casas cobertas por palha. E a Rua do Buraco, onde uma das profissões de subsistência era de carregar água.
Capelinha - antiga igrejinha situada no centro da principal praça da cidade
A efervescência cultural também marca a história da cidade. Expressa sua diversidade sociocultural. As principais festividades da cidade estavam atreladas ao calendário cristão. Incluindo-se entre estas o carnaval, sendo considerado por alguns autores como a mais importante das festas cristãs. Apesar do cunho religioso, era um momento que as ruas eram ocupadas por distintas grupos sociais, que se expressavam ao festejar. Um simbolo carnavalesco da cidade é o “Cão”. Amargosa também desfrutava de Filarmônicas, associações culturais, jornais locais, teatro e cinema.
As práticas culturais-religiosas afro-brasileiras vivenciadas e reconstruídas pelos diferentes sujeitos no município de Amargosa, . Essas práticas eram reconstituídas, através do culto aos orixás, inquices ou caboclos, em espaços forjados tanto dentro da cidade como na zona rural, seja em terreiros de Candomblé ou em cultos domésticos , nesses momentos de manifestações religiosas era firmada a sociabilidade entre os pares, como também, a conquista de seu espaço, em meio a uma sociedade que se mostrava refratária.
Trio eletrico - Carnaval de Amargosa - Atribuída ao final da década de 1970 e início de 1980
Povo de santo em cortejo no centro da cidade - 29 de Setembro de 1980
A partir de meados do século, Amargosa passa por um processo de declínio. Influenciada pela crise na lavoura de café. Tal produto tende a ser substituído pela pecuária. Também devido ao alto índice pluviométrico da região, torna-se inviável sustentar a manutenção dos trilhos de ferro e assim finda o Ramal da Estrada de Ferro de Nazareth. O que gerou graves problemas econômicos e sociais.
Assim a cidade entra em um momento de “inercia”, que só vai mudar com as novas politicas nacionais de credito rural, que financiou a introdução de uma diversidade de culturas como a mandioca, sisal, fumo, laranja, banana e cacau. Tendo a feira livre como um importante centro econômico e que persiste em um perfil comercial da cidade.
Dessa forma, podemos perceber Amargosa em suas diversas nuances. Notar a diversidade que compõe a cidade e como foi sendo construída historicamente. Bem como os papéis dos diversos grupos sociais na construção sócio cultural local.
DISTRITO SERRANA - BREJÕES
Na comunidade chamada Distrito Serrana, onde gentes semeiam labutas e cotidianos, as memórias de moradores mais remotos fazem recordar de quando a terra era desenhada por sisal e o povoamento ainda era coisa nova. O Distrito Serrana/ Brejões- BA nasceu do silêncio, de pouca gente, e devagarinho.
Na aurora da década de 1940, a terra antes desabitada passou a receber seus primeiros passos de homens e mulheres que seriam os protagonistas de um lugar situado às margens da Rodovia Federal 116.
O advento da BR-116 marcou a característica do Distrito Serrana como uma localidade que faz fronteira com o Distrito Serra do 100, pertencente ao município de Nova Itarana. Ambos locais separados apenas pela BR-116, comungam vivências semelhantes e histórias próximas. A relação que foi construída entre esses dois locais possibilitou que os moradores de cada lugar se comunicassem de forma mais tranquila e harmoniosa.
O mapa ao lado apresenta a imagem da região e a sua divisão a partir da BR - 116:
Mapa do Distrito Serrana, Brejões-BA.
LAGOA DO MORRO
O Distrito Serrana- Brejões/BA, conhecido e chamado ainda hoje como Km 100, por se encontrar a 100 Km de distância da cidade de Jequié, esta que é a maior cidade próxima da localidade estudada, por isso, um ponto de referência na região.
O Distrito Serrana se encontra geograficamente a 276 km da capital baiana localizado às margens da BR - 116, Rodovia Federal que começou a ser construída no final da década de 1930 com intenção de ligar o Nordeste ao Rio de Janeiro.
O Distrito Serrana viu o seu alvorecer na década de 1940 quando era chamado por Lagoa D´água e se configurava enquanto um lugar desenhado pelo sisal. Recebeu a presença da rodovia federal na década de 1947 e experimentou, a partir daí a chegada de um novo tempo com crescimento das ruas, novos estabelecimentos como mercadinhos, padarias, etc.
Ademais, a história do Distrito Serrana é também vinculada com a trajetória do café no Brasil, tendo em vista que a Fazenda Lagoa do Morro, sob os comandos da empresa Agribahia foi um importante expoente dentro da economia cafeeira baiana e local na década de 1950. Essa Fazenda se encontra na estrada que liga Brejões ao Distrito Serrana e ela teve o papel de fomentar a economia da região por muito tempo.
Um importante elemento que é preciso destacar quando se fala no Distrito Serrana é que ele ainda hoje é chamado pelo nome de Km 100, pois, esta denominação foi dada logo quando o asfalto chega na localidade na década de 1960 e assim, a referência por estar a 100 km de distância de Jequié ganha espaço e permeia o cotidiano da população. Dessa forma, apesar da localidade não se chamar mais Km100, as suas marcas históricas ainda passeiam pelo vocabulário dos sujeitos que habitam tal espaço e ainda predomina o nome descritivo.
LAGOA DO MORRO